a formiga cria asas para morrer


Teve tudo o que não quis, foi embora no dia seguinte.
Na sala ao lado ela encara desconhecidos com o brilho translúcido das lágrimas. Quero dizer que entendo-a na mudez de dar as costas e só escutar os lamentos que parede alguma freia. Organizar meus papéis, entre página e outra seu soluço vem rimando. Juro que tentei manter indiferença, contudo, ondas sonoras são perversas em golpear tijolos. Eu escuto.
Sua ouvinte argumenta com a má sorte de um coração doído. Também pego seus conselhos para mim. Por que dei atenção a cena como quem chorava.
Com seus trinta anos a mais de experi
ência a senhora apaziguava:
“Chora, que passa. Chora, que é preciso. Até mesmo na velhice vai acontecer, porque com o tempo fica pior. Chora, chora, chora...”
Durante o caminhar de ambas em minha direção alguém se intromete e questiona, abraça aquele bichinho acoado e pede para ela parar. Porém a senhora ferozmente arrebata:
“Deixa ela tirar de lá de dentro”
Apontou seu dedo sujo com a verdade para quem agora observava com seus papéis.
“Do contrário acumula, aí a tristeza cede espaço a amargura. Não é?”
Concordei no espanto de encarar seu piscar de olhos, não pude nem agradecer seu recado.

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